
O cenário cultural de
Joanópolis vive um momento delicado. A Casa da Cultura – implantada através da
ONG Pró-Joa (Associação para o Desenvolvimento Social de Joanópolis) –
importante símbolo de resistência e expressão artística no município desde
2005, enfrenta a iminente desocupação do prédio que a abriga, cujo proprietário
é um empresário joanopolense com significativa expressão social, política e
também grande colaborador da cultura local. A situação reacende debates
profundos entre o valor da cultura para a sociedade e o respeito ao direito de
propriedade garantido pela Constituição Federal.
O imóvel, cedido à ONG Pró-Joa – Casa da Cultura, inicialmente por três anos com isenção de aluguel, tornou-se palco de relevantes manifestações culturais e sociais, como apresentações teatrais, congressos, sessões de cinema, shows musicais, reuniões públicas para debates sobre políticas sociais e até a realização do último Cine Santa Rita (entre 2015 e 2017), viabilizado por um projeto empresarial conquistado pela então presidente da instituição, professora Neide Rodrigues Gomes.
O início
dessa trajetória, com a restauração e adaptação do prédio para suas funções
multiculturais — incluindo um auditório com capacidade para cerca de 300
pessoas —, foi marcado por parcerias e pelo idealismo de pessoas sensibilizadas
com a proposta, como empresários e demais colaboradores, além da adesão e
contribuição individual dos associados da ONG Pró-Joa. Essas ações foram de
importância essencial para consolidar as bases do que se tornou a principal
referência cultural da cidade.
Atualmente, a Casa da Cultura
recebe cerca de R$ 60 mil anuais em subvenção pública, reconhecendo que a
cultura, como dizem as próprias palavras de um abaixo-assinado disponível na
Change.org, “não é um luxo, é um direito”. Ainda assim, a divergência entre
manter naquele espaço específico ou em outro lugar levanta questões legítimas:
estariam alguns integrantes daquela organização defendendo o prédio ou a
continuidade do projeto cultural à sociedade, objetivando atender suas demandas
e expectativas como forma de contribuir com os setores público e privado?
Em meio a opiniões
conflitantes, é necessário ponderar: a cultura precisa ser protegida, mas é
preciso reconhecer que a propriedade privada deve ser respeitada. O prazo para
a devolução do imóvel termina neste sábado, 26 de abril, o que exige da gestora
atual, Marina Neves de Paula, e por quê não da administração pública municipal
— tanto do Executivo quanto do Legislativo — uma postura clara e propositiva, e
que direcione uma solução duradoura.
Diante da situação, a Casa da
Cultura publicou em suas redes sociais, na última quarta-feira (23), um vídeo de
“adeus”. Na postagem, Marina afirmou que o espaço “vai ceder ao avanço do
concreto”, mas que a luta pela arte e cultura deve continuar. “Esse prédio pode
estar com os dias contados, mas a cultura da nossa cidade não pode morrer. A
gente precisa se unir”, destacou a presidente.
Caso o prédio realmente deixe de abrigar a cultura, alternativas devem ser buscadas com responsabilidade, planejamento e respeito, inclusive ao estatuto da própria instituição mantenedora, vigente desde fevereiro de 2009. O desafio, agora, é garantir que a Casa da Cultura — enquanto projeto, memória e serviço à população — siga viva, independentemente de seu endereço. É hora de unir justiça, sensibilidade e bom senso para que Joanópolis continue a escrever sua história cultural com dignidade.
*Reportagem publicada no
impresso Jornal TRIBUNA da Cidade – Edi. 194 - abril 2025 – e atualizada em
nosso portal.